
ECONOMIA/NEGÓCIOS
Mercado imobiliário já sente impactos da tarifa de 50% dos EUA; especialista avalia reflexos
O agronegócio, um dos segmentos que mais investe em imóveis de alto padrão, é também um dos que mais vai sofrer com a nova tarifa imposta pelo governo norte-americano aos produtos brasileiros. A instabilidade econômica já reflete no mercado imobiliário brasileiro com investidores mais cautelosos nas negociações. Especialista na área, Bruno Cassola analisa o comportamento do investidor e os próximos passos do segmento.
Julho, 2025 – A decisão dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, válida a partir de agosto, impacta também setores internos que não estão diretamente ligados às exportações, como o mercado imobiliário. Em mercados aquecidos, como o de Balneário Camboriú (SC), cidade que lidera o ranking nacional de valorização de imóveis, os reflexos da medida já estão sendo sentidos, conforme o especialista e corretor de imóveis Bruno Cassola. Segundo ele, alguns investidores decidiram adiar a compra de imóveis em função da instabilidade gerada pelas perdas bilionárias previstas no agronegócio e na indústria da transformação.
“O agronegócio e a indústria da transformação são os dois setores mais afetados pela tarifa dos EUA. O agro, principalmente, está entre os maiores compradores de imóveis de luxo no Brasil e representa cerca de 30% da nossa demanda em Balneário Camboriú e região. É natural que, diante de um cenário de crise como este, haja uma retração no volume de investimentos. Alguns produtores querem avaliar melhor os próximos passos antes de efetivar uma negociação”, explica Cassola.
Segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), as exportações brasileiras do agronegócio somaram US$ 82,0 bilhões apenas no primeiro semestre de 2025. O complexo soja respondeu por US$ 30,3 bilhões (36,9% do total), enquanto o setor de carnes movimentou US$ 14,0 bilhões (17%). A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima perdas de US$ 5,8 bilhões ainda neste ano nas exportações do agro diante da tarifa de 50%, o que pressiona a balança comercial e o desempenho da economia brasileira.
Cassola destaca que esse tipo de crise internacional costuma impactar o comportamento do investidor. “O comprador de imóveis de alto padrão acompanha o cenário macroeconômico. Com a redução nas exportações e o risco de retração do PIB, muitos preferem adotar uma postura mais cautelosa”, afirma.
Apesar do cenário desafiador, o especialista reforça que o mercado imobiliário continua sendo uma opção sólida para proteção de patrimônio. “Mesmo em períodos de instabilidade, os imóveis seguem sendo ativos seguros, que valorizam no longo prazo e são uma proteção contra oscilação de inflação e juros. Balneário Camboriú, por exemplo, tem imóveis de luxo que chegam a valorizar até 30% ao ano, com liquidez rápida e alta procura por localização e exclusividade. O cenário pode esfriar, mas não há perda de confiança no valor do bem”, completa.
Para Cassola, o momento exige atenção, mas também planejamento. “A tarifa é um movimento político que impacta toda a cadeia econômica brasileira. Mas quem já atua nesse mercado sabe que o ciclo do imóvel é diferente: ele é um ativo real, durável, e tende a recuperar rapidamente valor e atratividade quando o cenário se estabiliza”, conclui.